Discussão sobre o Artigo de Jesper Juul " Games Telling stories? A brief note on games and narratives"
Nesse Artigo, Jesper Juul discute se os jogos são ou não narrativas, e apresenta argumentos a favor e contra para chegar a conclusão de que os jogos não são narrativas. Segue abaixo esses argumentos:
Prós
1) Tudo pode ser apresentado como narrativa
Juul aqui diz que nós usamos as narrativas para dar sentido ao Mundo e as nossas vidas, e que também são fundamentais para o nosso pensamento, porém, em seguida diz que isso não significa que temos que dar narrativas para tudo, e que o fato de algo poder ser apresentado de forma narrativa, não significa que esse algo seja uma narrativa.
2) A maioria dos jogos tem introduções narrativas e histórias alternativas
Aqui Juul diz que a maioria dos jogos possuem uma história escrita na embalagem, ou possuem uma intro, que coloca o jogador dentro de um contexto maior. Ele dá como exemplo o jogo Space Invaders(Taito, 1977), e diz que o Título sugere uma estrutura simples, onde um estado positivo é quebrado por uma força maligna externa e que é papel do jogador recriar o estado positivo de origem, em seguida, ele compara isso com a maioria dos contos, que possuem: Um estado inicial, uma reviravolta, e a restauração do estado inicial, porém ele ressalta que, de fato, é impossível se restaurar o estado inicial, porque o jogo não tem fim, apenas ondas atrás de ondas de inimigos.
Outro exemplo que Juul apresenta, é o dos Jogos de primeira pessoa, nesse caso, ele diz que jogos desse gênero geralmente possuem uma sequência de eventos, e que posteriormente o jogador pode recontar esses eventos, sendo assim, afirma que alguns jogos podem usar narrativas para algumas finalidades.
3) Jogos compartilham traços com narrativas
Aqui Juul diz, que muitos jogos possuem reversões, para preencher as lacunas, e que além disso, também possuem missões e protagonistas, e cita o livro Hamlet no Holodeck, no qual a
autora diz que narrativa e jogos não são tão distantes assim, porém, ele afirma que dizer que um jogo possui uma história linear, exclui de fato o jogador como participante ativo, pois isso implica, em seguir um caminho já existente.
Contras
1) Jogos não são narrativas como cinema, teatro e romances
Jesper Juul apresenta a ideia de que para o jogo ser narrativa, ele deve conseguir transferir a história de um filme para dentro dele, ou vice-versa, ele apresenta o argumento, falando sobre o jogo Star Wars(Atari, 1983), que é baseado no filme de George Lucas, mas porém, se você excluísse o título, de fato, o jogador não saberia que o jogo é sobre o filme, pois não existem descrições nem relações que levam o jogador a saber disso, e também, que o jogador pode falhar na missão de explodir a estrela da morte, coisa que não acontece no filme.
Outro exemplo, ele fala sobre o jogo ser transformado em filme, dando como exemplo o filme Mortal Kombat, mas explica que esse, não possui o mesmo dinamismo do jogo, da rotação de personagens, dos resultados variados, pois o filme segue uma linha fixa, onde o resultado sempre será o mesmo.
Ainda apresenta outro exemplo, o jogo Half-Life, e diz que as hordas de inimigos no jogo pode ser infinita, enquanto fosse transferida ao cinema, se tornaria finita, pois os personagens são elementos físicos, finitos.
2) O tempo em jogos funciona de forma diferente do que em narrativas
Juul diz que as narrativas apresentam um tempo diferente dos jogos, pois nas narrativas, podemos distinguir a sequência dos fatos cronologicamente, e embora o filme ou o livro esteja sendo visto/lido nesse momento, o que se passa ali, sabe-se que já aconteceu, e tudo que é descrito não pode ser mudado.
Já nos jogos, Juul diz que a sequência dos fatos não é estabelecida, vista que depende das ações do jogador para fazerem parte da história, ou seja, os acontecimentos estão no agora.
3) A relação entre leitor/espectador e o mundo narrativo é diferente da relação jogador e o mundo do jogo.
Segundo Juul, para o leitor se interessar pelo filme/livro e gastar energia assintindo/lendo, é preciso de fato, um ser atuante, um humano, para que ele se indenifique diretamente com a história, em contra partida, ele diz que nos jogos, isso é diferente, pois existem jogos onde não existe um ser humano atuante, como por exemplo, no tetris, mas nos jogos, o que atraí a atenção é o desafio.
Finaliza então, dizendo que os jogos podem ser muito mais abstratos do que os filmes.
Conclusão de Jesper Juul
Jesper Juul finaliza seu artigo dizendo que os argumentos contra, sobrepõem os prós, e conclúi com a ideia de que não podemos esquecer que jogos são interativos, dependem da ação do jogador, já as narrativas não, mas também deixa em aberto a questão em si, pois diz que as formas culturais não devem ser iguais.
Meu ponto de vista
Agora vou apresentar a minha opinião sobre os argumentos prós e contra de Jesper Juul.
Prós
1) Tudo pode ser apresentado como narrativa
Embora Jesper Juul afirme que o fato de algo poder ser apresentado como narrativa não significa ser uma narrativa, eu penso que, isso não significa que devemos ignorar o fato de que realmente tudo tem certo potencial de se tornar uma narrativa, visto que ele mesmo afirma que algo pode ser apresentado como narrativa.
2) A maioria dos jogos tem introduções narrativas e histórias alternativas
Concordo, a maioria dos jogos possuem cut-scenes e descrições para colocar o jogador dentro de um contexto, e mais ainda nos dias de hoje, pois a tecnologia já deu longos passos desde quando Juul escreveu seu artigo, hoje já temos jogos muito mais complexo nessas questões.
3) Jogos compartilham traços com narrativas
Concordo com fato de Jesper Juul dizer que o jogo possui uma narrativa linear exclui o jogador como participante ativo, pois isso é uma verdade, pois um jogo sempre vai depender das ações do jogador, caso contrário, ele não acontece.
Contras
1) Jogos não são narrativas como cinema, teatro e romances
Aqui eu discordo, pois como ele mesmo finaliza seu artigo dizendo que as formas culturais não devem ser parecidas, ou seja, não devem seguir regras iguais, o fato de um jogo não traduzir para ele uma história ao pé da letra não significa que o mesmo não deva ser considerado uma narrativa, até mesmo porque, desde a época que ele escreveu o artigo, a tecnologia já avançou muito, e hoje temos jogos realmente fiéis a filmes/livros. E sobre o fato de filmes com histórias baseadas em jogos não serem dinâmicos como os jogos, isso é outro ponto que eu discordo, pois para mim, sempre vai haver um gargalo entre as formas narrativas, veja o exemplo de quando livros são transformados em filmes, geralmente correntes de pessoas saem reclamando de muitas coisas, da discrepância dos personagens e dos fatos, porque na verdade o diretor do filme é diferente do autor do livro, e não é por isso que não vou considerar filmes narrativas.
O mercado de jogos cresceu muito, e hoje os jogos possuem uma importância maior e mais complexa, muitos jogos possuem narrativas profundas, e que poderia sim, ser transformadas em sétima arte de forma eficaz.
2) O tempo em jogos funciona de forma diferente do que em narrativas
Sim, realmente o tempo nos jogos não funcionam igual nas narrativas, mas, essa é a chave da imersão em um jogo, o jogo depender da ação do jogador para acontecer, Jesper Juul esquece que mesmo os fatos estarem acontecendo no agora, eles podem sim ser descritos como uma narrativa, veja os GamePlays nos canais do youtube por exemplo, o espectador assiste a uma narrativa, e mesmo esse sendo dinâmico, ou seja, os acontecimentos podem variar de jogador para jogador, um jogo pode possuir variar narrativas dentro de uma narrativa.
3) A relação entre leitor/espectador e o mundo narrativo é diferente da relação jogador e o mundo do jogo.
Eu concordo com fato dele dizer que como gastamos energia nessas formas de arte sejam diferentes, mas isso não significa que um jogo não seja uma narrativa, a imersão é o que torna o jogo tão atraente para nós, o fato de podermos fazer aquilo que nos é vedado no mundo aqui fora, de que é impossível de se fazer aqui fora, e eu certamente me vejo como parte de uma narrativa paralela enquanto estou jogando, e eu posso contar esses acontecimentos depois.
Minha conclusão
O tempo é algo que muda muitos conceitos, a tecnologia é a maior prova disso, talvez para a data que Jesper Juul tenha escrito seu artigo, seus argumentos fossem mais plausíveis, mas muita coisa mudou, os jogos hoje em dia possuem uma importância relativamente maior e mais profunda.
Eu finalizo com a ideia de que nunca devemos generalizar algo, pois sempre haverá os casos a parte. Existem sim, muitos jogos que não são narrativas, mas isso não deve servir como base para dizer que os jogos não são narrativas.
Existem muitos jogos com uma história profunda, e venho novamente dizer, que mesmo estes, dependentes das ações do jogador, eles seguem uma sequência de fatos, e é o que torna nossa imersão tão prazerosa, poder atuar e fazer parte de uma história paralela, uma realidade paralela.
Bibliografia
Jesper Juul, Games telling stories? A brief note on games and narratives. Disponível em: <http://www.gamestudies.org/0101/juul-gts/> acesso em: 07/04/2014;